Quando eu era pequena, minha mãe costumava
assistir comigo os desenhos de contos de fadas. Comprava-me dezenas deles. Acho
que a sua intenção era me fazer crescer acreditando em um mundo melhor e
repleto de felicidade, onde tudo sempre terminava bem. Talvez ela quisesse
camuflar a realidade do mundo aos meus olhos, pra que eu só a enfrentasse
quando tivesse realmente pronta. Hoje posso entender isso. E creio que tenha me
feito um bem imenso ter passado a infância dessa forma, ter crescido tendo
essas - aparentemente simples e inocentes - histórias como base. No entanto,
dentre todos os contos que eu já vi, um deles me chamou a atenção em especial:
A Pequena Sereia.
Ariel - a protagonista do desenho
- era uma princesa-sereia que morava no fundo do oceano. Era filha do Rei
Tritão, conhecido como rei dos mares, rei de Atlântida. Ariel adorava
seu lar aquático, mas, ao mesmo tempo, era fascinada pelo desconhecido. Era
fascinada pelo mundo humano. E, logo, -
devido a todo esse fascínio - ela descobriu que, de alguma maneira, seu lugar
não era no mar. Ariel queria mais. Queria ir além. Ansiava por novas
oportunidades.
À medida que eu crescia cada vez
mais a história dessa adorável princesa ia se cruzando a minha própria. Ou,
pelo menos, eu estava me identificando demais com aquele conto infantil.
Conforme fui enfrentando determinados momentos da minha vida, pude compreender
a sensação de Ariel. Passei a sentir que não estava exatamente no ”meu lugar”
no mundo. Eu não estava aonde deveria estar.
Eu era feliz, ainda sou. Em
determinados momentos, sou completa e absolutamente feliz. Porém, quando esses
pequenos momentos se esvaem pelos vãos de meus dedos, é que me dou conta que
esse, talvez, não seja então o meu lugar. E, então, é aí que percebo que minha
busca permanece.. quase todos os dias. Começo a buscar em outros pontos..
Procuro buscar em lugares e pessoas o “meu lugar”. Lugar onde eu me sinta bem,
aceita e feliz. Não só por alguns momentos, e nem pela metade. Mas sim em todos
os momentos, e por completo.
Ariel achou seu lugar em terra
firme, ao lado do seu amado príncipe Eric. Ela foi capaz de sacrificar sua voz
e arriscar tudo o que possuía, em nome do amor que sentia pelo rapaz. Ela
sacrificou sua cauda em troca de suas pernas, para enfim se encontrar. E..
Quanto a mim, eu continuo procurando. Continuo aqui, buscando algo que me complete.
Eu sei que a história de Ariel
teve um final feliz não porque tinha que ter. Teve um final feliz porque,
ao contrário das demais princesas que só precisavam de um beijo do seu amado
pra tudo estar bem, Ariel enfrentou as diferenças e, principalmente, lutou pelo
que acreditava.. Foi atrás, em busca de ser quem ela desejava.
Em algum momento da minha história
eu quero ser como ela. Quero ter a mesma determinação. Eu quero me encontrar..
Quero achar um lugar só meu. Assim como Ariel, eu quero ser completa um dia.
Seja em terra, seja em mar. Seja em qualquer lugar. Eu só quero me achar. Me
descobrir.
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